top of page
Buscar

TDAH é só desatenção e hiperatividade?

  • Ana Paula Ávila de Oliveira
  • 16 de mai. de 2024
  • 5 min de leitura

Os impactos vão muito além.  Vamos entender porque isso acontece?


ree

Você sabia que pessoas com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), constantemente, relatam histórias de vida permeadas por punições e julgamentos negativos ao longo da infância e sensação de fracasso na vida adulta?

Isso ocorre porque muitas vezes são percebidas como pessoas que não sabem o que querem, são rotuladas como preguiçosas, desorganizadas ou sem persistência.


As dificuldades comportamentais e emocionais que observamos em pacientes com TDAH estão fortemente relacionadas ao lobo frontal do cérebro, que está associado às “funções executivas”. E o que são as funções executivas? As funções executivas são um conjunto de habilidades cognitivas que tem por finalidade o controle e regulação do comportamento para atingir objetivos específicos. Essas habilidades são importantes para saber definir prioridades, inibir respostas automáticas ou dominantes, manter informações relevantes em mente para finalizar uma tarefa, resistir a distrações e criar diferentes alternativas (Cardoso, Pureza, Gonçalves, Jacobsen, Senger, Colling & Fonseca, 2015). 


Função executiva também envolve regulação emocional, na qual pode ser entendida como a capacidade que o sujeito possui para regular e gerenciar o seu próprio comportamento, sentimentos e repostas fisiológicas que caracterizam as emoções (Cardoso, Pureza, Gonçalves, Jacobsen, Senger, Colling & Fonseca, 2015).


Com prejuízo nessas funções, será difícil para a pessoa planejar, seguir uma meta, perseverar diante de dificuldades, controlar o próprio comportamento diante de impulsos mais prazerosos. Constantemente se desviará do objetivo almejado, sentindo ao longo da vida que nada alcançou, que não obteve sucesso ou que não é capaz.


Contudo, cabe ressaltar que o TDAH não tem relação direta com a inteligência, podendo haver pessoas com TDAH com o QI acima da média, dentro da média ou abaixo da média, assim como ocorre em pessoas que não tem o transtorno. No entanto, as dificuldades relacionadas às funções executivas podem impedir que essas pessoas, mesmo com grande inteligência, alcancem todo o seu potencial.


Por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento, de acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais – DSM-5-TR, sua apresentação precisa ocorrer de forma substancial até os 12 anos de idade. 


A criança com TDAH, normalmente, apresenta-se distraída, desvia o foco das atividades com facilidade, tem muita dificuldade em manter-se engajada em atividades que geram desprazer ou esforço cognitivo, como estudar por exemplo.


Pode apresentar também:

  1. desorganização;

  2. agitação;

  3. dificuldade em ficar sentada por períodos mais longos;

  4. apresentar preferência por brincadeiras mais agitadas (gostam de correr, pular, conversam muito);

  5. “hiperfoco” em assuntos de seu interesse;

  6. podem mostrar-se impulsivas, com dificuldade para esperar sua vez de brincar ou de falar.


A partir da adolescência, os sintomas se modificam um pouco, a distração e a desorganização tendem a permanecer, mas a hiperatividade pode se tornar mais internalizada, se manifestando por meio de uma agitação interna. O comportamento impulsivo que é característico da adolescência, torna-se ainda mais problemático podendo gerar situações de risco para o uso de substâncias e transtorno de conduta, devido a uma tendência a agir sem pensar nas consequências.


Na idade adulta, essas características que se revelaram mais intensas na adolescência podem permanecer, além das consequências negativas advindas dos comportamentos impulsivos. A essa altura, a pessoa, possivelmente, já coleciona uma história de dificuldades e uma autoimagem negativa. Isso ocorre mesmo quando os sintomas do TDAH não se manifestam de forma tão intensa, pois a experiência interna da manifestação do transtorno, pode ser suficiente para minar a autoconfiança. Somado a tudo isso, muitas vezes ainda precisam lidar com o fato de não ter atendido as expectativas da família e da sociedade.


Além disso, o DSM-5-TR pontua que, em relação as consequências funcionais do TDAH estão o maior risco em sofrer lesões, traumas, acidentes e violações de trânsito, com maior probabilidade também para a obesidade e hipertensão. Enfatizando de forma surpreendente que indivíduos com TDAH tem maior taxa de mortalidade em geral, principalmente devido a acidentes e lesões.


O que pode ser feito para ajudar no tratamento ao TDAH? Por meio da avaliação neuropsicológica é possível examinar o funcionamento cognitivo de forma minuciosa, avaliando as funções executivas e demais aspectos que podem estar relacionados ao TDAH ou a outros transtornos mentais. Este instrumento de avaliação neuropsicológica possibilita o diagnóstico diferencial entre o TDAH e outros transtornos, como transtorno de ansiedade, transtorno bipolar, transtorno específico de aprendizagem, transtorno depressivo, transtorno de estresse pós-traumático, transtornos de personalidade, transtornos por uso de substâncias, Transtorno do Espectro Autista, entre outros. O TDAH pode se apresentar também em comorbidade com outros transtornos, o que precisa ser identificado para direcionar o tratamento.


As diferenças individuais presentes entre as pessoas com o diagnóstico de TDAH também precisam ser consideradas, assim como o impacto da história de vida, relações familiares, nível de escolaridade, situação socioeconômica e aspectos culturais. De acordo com o DSM-5-TR o indivíduo com TDAH pode apresentar-se predominantemente desatento, predominantemente hiperativo/impulsivo ou pode haver uma apresentação combinada, satisfazendo ambos os critérios. Os níveis de gravidade também podem variar entre leve, moderado e grave.


Diante desses aspectos, se faz necessário enfatizar que tanto a saúde mental, como a saúde física tem o diagnóstico como etapa crucial que antecede o tratamento e a resolução do problema. No caso do TDAH, o diagnóstico pode ser realizado por meio da avaliação neuropsicológica, que utiliza como recursos:

  • análise clínica e comportamental;

  • análise de resultados de exames de saúde;

  • análise da história de vida;

  • aplicação de testes e escalas padronizadas e reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP);

  • entrevistas com familiares, professores e demais profissionais que acompanham o paciente.


Dessa forma, ao final do processo clínico investigativo envolvendo as etapas descritas acima, o paciente receberá um laudo detalhado, com informações referentes ao seu funcionamento cognitivo, emocional e análise de aspectos de sua personalidade. O laudo pode ser conclusivo para TDAH ou outro transtorno mental, caso haja critérios suficientes para o diagnóstico.


Contudo, mesmo que o paciente não apresente sinais e sintomas indicativos de um transtorno mental, o laudo irá detalhar como se dá o funcionamento do paciente, indicando de forma clara as facilidades e dificuldades, representando dessa maneira uma importante fonte de autoconhecimento. Nos podemos lhe ajudar neste processo, agende a sua consulta.


ANA PAULA ÁVILA DE OLIVEIRA, CRP: 01/15128, é Psicóloga, Pós-graduada em Gestão de Políticas Pública e Especialista em Neuropicologia. Atua há 15 anos como psicóloga clínica e especialista socioeducativa, realiza o acompanhamento sociopsicopedagógico de adolescentes em conflito com a lei.  Tem vasta experiência em avaliação psicológica, neuropsicológica, psicodiagnóstico e elaboração de laudos.


Referências Bibliográficas:


American Psychiatric Association (2014). DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: Artmed.


Cardoso, C. O., Pureza, J. R., Gonçalves, H. A., Jacobsen, G., Senger, J., Colling, A. P. C., & Fonseca, R. P. (2015). Funções executivas e regulação emocional: intervenções e implicações educacionais. In N. M. Dias, & T. P. Mecca (Orgs.), Contribuições da neuropsicologia e da psicologia para intervenção no contexto educacional (pp. 63-82). Memnon.


Cardoso, C. O., & Fonseca, R. P. (2016). Programa de estimulação neuropsicológica da cognição em escolares: ênfase nas funções executivas. Booktoy.

 
 
 

Comentários


©  2035 por Clínica de Desenvolvimento Humanizado. Orgulhosamente criado com Wix.com

SHS Quadra 6, bloco E, sala 617, Complexo Brasil 21- Asa Sul, Brasília-DF, CEP: 70316102

Tel: 061-99206-0058

  • LinkedIn
  • Instagram
bottom of page