Como o EMDR pode ajudar a superar o medo de avião?
- Nadya Rodrigues Gomes Café
- 19 de abr. de 2024
- 4 min de leitura

O medo é algo assustador enquanto não o superamos.
Quem não tem algum trauma? O medo de avião é apenas um dos mais conhecidos pela humanidade. Contudo, existem técnicas que auxiliam as pessoas para superarem fobias. O EMDR é um modelo de psicoterapia que foi descoberto, casualmente, no final dos anos de 1980, pela cientista Francine Shapiro, uma psicóloga californiana.
Em um dia ensolarado, ela amanheceu chateada, ciente da emoção que a incomodava, foi passear em um parque. Enquanto pensava nos episódios “negativos” e perturbadores, percebeu que eles desapareciam quando, de forma espontânea, os seus olhos se moviam na diagonal para a esquerda e direita e de cima para baixo. Após esta experiência, começou, voluntariamente, a pensar em situações do seu passado e do seu presente que a perturbavam enquanto movimentava os seus olhos de um lado para o outro e verificou que essas memórias deixavam de ser perturbadoras.
Shapiro queria saber se esse fenômeno também acontecia com outras pessoas. Logo, iniciou sua investigação com vários experimentos com alguns amigos. Após longos estudos no campo da investigação, desenvolveu um protocolo, cientificamente comprovado, de intervenção o qual chamou inicialmente de EMD, Eye Movement Desensitization (dessensibilização por meio dos movimentos oculares).
Em 1990, Shapiro fundou uma Associação Profissional Independente, o EMDR Institute, localizada na Califórnia (EUA). Neste mesmo ano, expandiu o conceito do modelo para EMDR, Eye Movement Desensitization and Reprocessing, (Dessensibilização e Reprocessamento por meio dos Movimentos Oculares), de forma a incluir o conceito de reprocessamento.
a) Como funciona? Qual é o objetivo?
Você sabia que há diferenças entre a memória traumática e memória comum? Por exemplo, caso você seja questionado sobre o que comeu na segunda feira passada, talvez, responda: “Não me lembro ou não sei!”. Isso acontece porque a memória comum não se fixa ela se dilui no passado.
Esse fenômeno não acontece com uma memória traumática. De modo geral, a memória do trauma guarda detalhes visuais, às vezes auditivos, às vezes físicos, às vezes emocionais, como se tivesse ocorrido há pouco tempo. Além disso, a memória traumática pode manifestar um ou mais dos nossos cinco sentidos quando relembrada.
Isso acontece porque a memória fica registrada e congelada no cérebro, principalmente, no hemisfério direito, grande responsável por administrar nossas emoções. Por outro lado, as ferramentas que nos permitem conferir novo significado à experiência e deixá-la, finalmente, no passado se encontram no hemisfério esquerdo, responsável por nossa objetividade e racionalidade.
Onde o EMDR atua? Essa técnica faz a intervenção no foco dos elementos da memória traumática por meio da estimulação bilateral que pode ser visual, auditiva ou tátil. Esses estímulos promovem o “diálogo” entre os hemisférios, esquerdo e direito e a “metabolização” (reprocessamento) do trauma.
b) Quando pode ser utilizada?
O EMDR possui vários protocolos de intervenção. Cada protocolo possui etapas e fases específicas a serem adotadas para o tratamento. As intervenções mais utilizadas são para o combate a TEPT (trauma proveniente de evento pós-traumático), ansiedade, fobias (simples e de processo), doenças e transtornos somáticos, redução de estresse, lutos, violência sexual, violência doméstica, entre outros.
Uma das fobias mais procuradas para o tratamento com o EMDR é o medo de avião. Quem não gosta de viajar? Por este motivo e pelo sofrimento de estar cerceado ou prisioneiro do medo muitas pessoas se utilizam desta ferramenta para transpor esta limitação e poder superar uma experiência traumática.
c) Quais são os resultados e quais são as evidências científicas?
O período para os resultados pode variar, porém na maioria dos casos em pouco tempo, o indivíduo tem a sensação de maior distanciamento da perturbação traumática. Espontaneamente, começa a reavaliar a experiência a partir de uma perspectiva mais otimista. É comum que após o reprocessamento a lembrança do que antes era uma morte traumática perde seu poder de ferir e a pessoa é capaz de resgatar as lembranças de bons momentos. A partir dessas conquistas, a pessoa organiza-se melhor, passa a desfazer-se de sentimento de culpa inadequado, consegue planejar um futuro melhor, a se permitir desejar coisas boas para si.
A intervenção por meio da técnica de EMDR não apaga a memória ela apenas modifica o caminho sináptico promovendo a ressignificação do evento “negativo” ou perturbador, pois permite o reprocessamento de experiências emocionalmente traumáticas por meio da estimulação bilateral do cérebro (que pode ser visual, auditiva ou tátil), ao promover a comunicação entre os dois hemisférios cerebrais.
Essa técnica é comprovada cientificamente e reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como uma nova abordagem psicoterapêutica que permite resolver, com eficácia, rapidez e durabilidade de resultados, bloqueios que dificultam a concretização de objetivos pessoais, relacionais, académicos ou profissionais, avivando o potencial de cada indivíduo.
d) Quem pode recorrer à técnica? Há alguma contraindicação?
Essa técnica é indicada para várias questões clínicas por meio de protocolos específicos. Pode ser aplicada em crianças, adultos, adolescentes e grupos. É necessária a análise clínica de uma psiquiatra ou psicólogo com formação em EMDR para prática desta técnica.
A intervenção é contraindicada em pacientes com quadros psicóticos agudos, epilepsia sem controle medicamentoso ou esquizofrenia. Pessoas com transtornos bipolares, borderline ou outros transtornos de personalidade devem ser acompanhados por psicoterapeutas em EMDR especializados nestes diagnósticos/protocolos.
NADYA RODRIGUES GOMES CAFÉ, CRP-01/13784, é Psicóloga clínica e organizacional. Palestrante, facilitadora de grupos, conteudista e tutora de cursos a distância e presencial. Especialista em Psicologia Clínica em Gestalt Terapia, Especialista em Gestão de Pessoas e Especialista em Gestão Pública. Possui formação em Eye Movement Dessensitization and Reprocessing (EMDR), Barras de Access, Terapia Cognitivo Comportamental e Certificação Internacional na Metodologia de Aprendizagem Experiencial Avançada. Certificação em Educação Financeira. Master Coach Ontológica e Master Coach Business.
Referências:
EMDR – Dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos Oculares/Francine Shapiro – Brasília : Nova Temática, 2007.




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